26 de fevereiro de 2014

Neymar e Barcelona: os bastidores

          No dia 3 de maio de 2013, diante de um Camp Nou recheado com mais de 55 mil pessoas, Neymar da Silva Santos Júnior se apresentou à torcida do Barcelona, à Europa e ao mundo. Sob as lentes e os olhares de mais de 350 jornalistas, realizando embaixadinhas e fazendo graça ao arriscar algumas palavras em catalão, o brasileiro que assinou um contrato de 5 anos com o clube espanhol da Catalunha disse ter realizado um "sonho de criança". Bateu o recorde de público em sua recepção - superando a apresentação do sueco Ibrahimovic, que em 2009 reuniu 50 mil pessoas - e também o de acessos no site oficial do clube. Tudo muito bonito, a não ser pela obscura extremidade do iceberg que começou a surgir e que diz respeito aos bastidores dessa negociação.
          O valor da transação anunciado inicialmente era $57.1 milhões de euros; entretanto, no decorrer dos vários capítulos dessa novela que parece se arrastar lentamente em direção a uma conclusão, as cifras já quase dobraram. O ex-presidente do Barcelona, Sandro Rossel - que inclusive perdeu seu cargo justamente devido às divergências entre o valor anunciado e o valor real da compra de Neymar - se manifestou recentemente em entrevista coletiva, após um sócio do próprio clube ter exigido em tribunal que os números da negociação fossem disponibilizados e clarificados pela diretoria. "Reafirmo que Neymar custou 57,1 milhões de euros e ponto, volto a dizer pela enésima vez. Peço ao senhor juíz que termine com isso e me convoque para testemunhar. Não há nada a esconder, tudo tem uma explicação", disse ele. Contudo, a fachada de uma postura firme e límpida durou somente no decorrer dessa entrevista, e em 23 de janeiro desse ano o honestíssimo Rossel renunciou à presidência do clube catalão, cargo que possuia desde 2010, para "evitar que ataques pessoais a ele prejudicassem a imagem do clube". Levando em conta que o nome de Sandro já esteve envolvido em outras polêmicas, como nada mais nada menos que o maior esquema de corrupção na Fifa (que fraudou a entidade em 40 milhões de reais e envolveu proprinas a Ricardo Teixeira e João Havelange), está a seu critério deduzir se a renúncia é ou não uma confissão de culpa no caso Neymar.
          Depois de um certo tempo, o Barcelona admitiu outros gastos referentes à contratação do atacante brasileiro. Os números fornecidos pelo próprio clube totalizam 86.2 milhões de euros e se dividem da seguinte maneira:     
                

          Considerando o significativo aumento se comparado ao valor inicial pregado por Sandro Rossel e toda a diretoria do Barcelona sobre a operação, convenhamos que se trata de uns tantos milhões de euros de diferença (29.1 milhões, para ser exata). No entanto, ainda há mais uma quantia a ser somada nessa equação: no dia 24 de feveiro, após reafirmar a legalidade da operação que trouxe Neymar ao Barcelona, o clube confirmou ter pago 13.5 milhões de euros às autoridades fiscais da Espanha, para tratar de "divergências interpretativas" relacionadas à negociação. Ou seja, mesmo mantendo sua declaração de inocência diante das acusações de fraude fiscal, os catalães desembolsaram (mais) milhões de euros para "evitar qualquer risco", nas palavras de Javier Faus, vice-presidente econômico do clube. Quem não deve, não teme? 
          Com esse aumento na "Equação Neymar", a operação passa a custar um total de 99.7 milhões de euros para os cofres do Barcelona, fazendo com que o jogador seja o mais caro da história do futebol, superando a transferência de Cristiano Ronaldo para o Real Madrid em 2009 (96 milhões de euros) e também a de Gareth Bale para o mesmo time espanhol, em 2013 (91 milhões de euros). Aproveitando a comparação com o time da capital, vale a ressalva para duas críticas direcionadas a ele, vindas por parte de integrantes do Barcelona, se tratando de finanças: a primeira partiu do técnico Tata Martino, que diante da possível contratação de Bale pelo Real Madrid, por 91 milhões de euros, disse que esse preço era um "desrespeito à situação mundial". A segunda alfinetada veio do zagueiro Piqué, que fez uso de ironia para contrastar e justificar as contratações do rival merengue, dizendo que o Barcelona não possui ajuda da Bankia (conglomerado de bancos da Espanha). Agora, quando o ar de superioridade e o sarcasmo já perderam o efeito, as questões que emergem são: se 91 milhões de euros são um desrespeito ao mundo, 99.7 milhões (e contando) são o que? Se o Barcelona não possui ajuda da Bankia, de quem, então? Depois de tanto frizar a filosofia de investir nos atletas da base, o time catalão ironicamente foi responsável pela negociação mais cara da história - tentando camuflar a hipocrisia, mas foi. 
          Renúncia presidencial, investigações em andamento, julgamentos e desconfianças pairando sob os gramados e escritórios do Camp Nou. O clima em Barcelona já foi melhor. Em meio à tantas cifras e cálculos, reside a possibilidade do prejuízo ser ainda maior, caso seja provada a culpabilidade do clube: a multa pode variar de 5.5 a 54.6 milhões de euros, dependendo do montante reconhecido como fraudulento. Quanto terá custado Neymar, quando a história finalmente chegar à sua conclusão? Uma reputação, bastante credibilidade, e uns trocados de euro.

Giovanna Rinaldi

2 comentários:

  1. Nossa Gio,como vc sabe disso tudo?????Que sujeirada,hein!!!!!Vamos ver se é como aqui,e acaba em pizza.kkkk.....duvido!!!!! Parabéns pelo seu artigo...

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  2. Essa é minha filha, parabéns pelo texto filha, e pelo discernimento de coisas tão complicadas no mundo do futebol. Logo estaremos ai.

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