30 de outubro de 2013

FIFA Ballon D'Or 2013 - Opinião

Em um contexto geral, essa premiação não pode ser levada tão a sério e a cada ano perde mais pontos em questão de credibilidade e validade. Não foram poucas as alegações que já surgiram de integrantes do seleto grupo de votação - que é constituído por capitães e treinadores de seleções e jornalistas - que afirmaram que seus votos foram mudados e não correspondem às suas escolhas de fato. Polêmicas à parte, um outro fator que põe em questão a real validade do prêmio é o fato de que na maioria das vezes, o propósito da entrega do título de "melhor jogador do ano" é interpretado de forma errada. O premiado deveria ser o jogador com melhor desempenho naquele específico ano em que a cerimônia é realizada - e não "o melhor jogador do mundo" de forma generalizada. O que acaba acontecendo é que o voto se dirige ao atleta preferido de cada um dos consultados, e não ao que teve mais relevância no último ano, como seria justo.

Por outro lado, há também a influência da imagem. Um fator extra-campo que pode acabar decidindo que quem leva o prêmio é o queridinho de todos, por exemplo, ao invés do jogador que realmente mereceria por seu desempenho nos gramados. Isso sem contar quando os próprios representantes das entidades responsáveis pela cerimônia - que deveriam manter neutralidade considerando o fato que suas opiniões podem influenciar a de outras pessoas - manifestam publicamente sua escolha por um candidato, como foi o caso de Michel Platini no ano passado (quando praticamente "fez campanha" para Messi) e Joseph Blatter esse ano. Esse último, incluive, vêm causando bastante polêmica após um vídeo que se espalhou na internet nos últimos dias.
No dito vídeo, Blatter está dando uma palestra na Oxford Union e responde à uma última pergunta: "quem é seu favorito? Cristiano ou Messi?". O presidente da FIFA começa com uma resposta política, dizendo que ambos são ótimos em seus estilos únicos e diferentes, mas logo começou a se complicar: disse que Messi é o "bom garoto", o menino que toda mãe queria ter em casa, enquanto Cristiano gasta muito dinheiro em cabelereiro. O presidente inclusive chegou a se levantar e fazer uma imitação do português, provocando risadas da platéria que o assistia. A questão é: quanto ser um "bom garoto" e ir ao cabelereiro influencia no futebol, Blatter? E em nome de quem você se manifestou - presidente da FIFA, maior entidade do futebol mundial, ou Joseph Blatter, o homem?
A insatisfação com as declarações foi demonstrada tanto pelo clube Real Madrid, cujo presidente enviou uma carta a Blatter pedindo que ele se ratifique publicamente e peça desculpas ao clube e jogador, quanto pelo próprio Cristiano Ronaldo, que postou a seguinte mensagem em sua conta no Facebook: "Esse vídeo mostra claramente o respeito e consideração que a FIFA tem por mim, pelo meu clube e meu país. Muita coisa está explicada agora. Eu desejo ao Sr. Blatter muita saúde e uma longa vida, com a certeza de que ele irá continuar a acompanhar, como ele merece, o sucesso de seus jogadores e times preferidos".
Na lógica de Blatter, gastar dinheiro em cabelereiro te faz uma má pessoa. Mas defraudar a Fazenda, como fez Messi, te faz uma boa pessoa. Seria isso por identificação? Por congruência de filosofias? Afinal, não foi apenas uma vez que o presidente da FIFA foi acusado de corrupção. Sua eleição em 1998 é controvérsia e escândalos vieram à tona em relação a uma possível "compra" da Copa do Mundo do Qatar em 2022, polêmica essa que manchou o nome e a credibilidade da maior instituição do futebol mundial. Durante o mandato de Joseph Blatter. O que faz de nós "bons garotos e homens", afinal?

Como se não fosse suficiente, além de polêmicas, há também muitas controvérsias em relação à escolha dos candidatos fazer juz ao real desempenho de técnicos e jogadores ao longo do ano. Muitos destaques ficam de fora, enquanto seus lugares são ocupados por concorrentes que fizeram parte da lista "porque sim". Como é o caso, por exemplo, da presença do espanhol Xavi (Barcelona) que apesar de seu ano de lesão e baixo rendimento, está entre os 23 melhores do ano.
Outra baixa, completamente inexplicável, é o argentino Diego Simeone na categoria "treinadores do ano". O técnico assumiu a equipe do Atlético de Madrid quando ela estava em décimo lugar e a 4 pontos do rebaixamento e a trasnformou em uma elite do futebol espanhol, surpreendendo a todos quando venceu a Europa League sem perder nenhum dos jogos do torneio e de mais uma vez ao derrotar o Chelsea na Supercopa da Europa. Hoje, o Atlético de Madrid está em segundo lugar na tabela do campeonato espanhol e fazendo uma impecável campanha. Leva na bagagem desse ano a vitória contra o Real Madrid em pleno Santiago Bernabéu, conquistando a Copa del Rey, e a posterior vitória contra o mesmo, depois de um tabu de mais de dez anos. Como imaginar Simeone fora dessa lista, enquanto Arsene Wenger - que não ganha um título pelo Arsenal desde 2005 - faz parte dela? Pergunte à FIFA.

Giovanna Rinaldi

Um comentário: