31 de maio de 2014

          A exatamente 12 dias do começo da Copa do Mundo, o treinador da seleção espanhola Vicente del Bosque fez o anúncio oficial dos 23 atletas que serão levados ao Brasil para representar a Fúria e buscar o segundo mundial consecutivo. A lista de nomes inclui veteranos presentes na conquista do título de 2010 mesclados com sete novidades, a principal delas sendo o atacante brasileiro naturalizado espanhol Diego Costa, que optou por defender o conjunto europeu ao invés de fazer parte de uma seleção brasileira disputando a Copa em casa. O que mais chama a atenção com a divulgação da lista, no entanto, são os critérios - ou a falta deles - utilizados pelo treinador espanhol para selecionar o atual grupo que virá ao Brasil, e a hipocrisia que desmascara preferências pessoais e injustificáveis. Com jogadores "fixos" imunes à noções de meritocracia e avaliação crítica, Del Bosque vem ao Brasil com muito mais um elenco de amigos do que um elenco de mérito.

          Os três goleiros convocados foram Iker Casillas, Pepe Reina e David De Gea. O primeiro, herói da conquista de 2010 e recém campeão da Champions League com o Real Madrid, é uma figura inquestionável na lista de Del Bosque, apesar de não ter sido titular no campeonato espanhol e consequentemente não ter jogado pela maior parte da temporada. A vaga em aberto deixada pela lesão de Victor Valdés, do Barcelona, foi preenchida por Pepe Reina, do Napoli, que há muito tempo não produz o menor esboço de merecer confiança ou espaço, mas que por algum motivo desconhecido agrada o técnico espanhol e lhe garante convocações desde o último mundial. Quem finalmente ganhou um posto foi o jovem David De Gea, do Manchester United, que vem se destacando há um certo tempo na liga mais competitiva da Europa e que até então era invisível aos olhos de Del Bosque. A lamentação fica por conta de Diego López, que apesar de uma fantástica forma desde que foi contratado pelo Real Madrid para suprir a lesão de Casillas, e apesar da sequência dada pela titularidade no campeonado espanhol, não foi sequer chamado para amistosos. Talvez por negligência do técnico, talvez por confronto com seus interesses pessoais; das duas, é difícil apontar a pior.

          O grupo da defesa conta com Piqué (Barcelona), Sergio Ramos (Real Madrid) e Raúl Albiol (Napoli) na zaga, Azpilicueta (Chelsea) e Jordi Alba (Barcelona) na lateral esquerda, Juanfran (Atlético de Madrid) na lateral direita e Javi Martínez (Bayern de Munique) podendo atuar como zagueiro ou volante. Quem ficou de fora foram os dois laterais direitos do atual campeão europeu Real Madrid - Arbeloa e Carvajal. O segundo, que vinha sendo clamado como "melhor lateral da Europa" por muitos, era usado para justificar a preferência em relação ao primeiro. Agora, sob a lógica de Del Bosque, os dois terão a mesma importância e papel: o de assistir à Copa pela televisão de suas casas. Apesar de uma certa consistência de Juanfran e do bom desempenho do Atlético de Madrid ao longo da temporada, é questionável e quase que descartável a suposição de que individualmente esteja acima dos dois outros laterais. E mesmo que estivesse - meritocracia não é nem de longe uma prioridade do técnico espanhol na formação de seu elenco. Tendo justificado a ausência de Arbeloa pela sua volta de lesão, Del Bosque optou por chamar Diego Costa, que ainda não está nem recuperado.

          Os meio campistas escolhidos para a equipe da Fúria podem ser separados em três grupos: jogadores do Barcelona (Busquets, Xavi, Iniesta e Fábregas), demais jogadores que atuam na Espanha (Xabi Alonso do Real Madrid e Koke do Atlético de Madrid) e atletas atuando no futebol inglês (David Silva do Manchester City, Juan Mata do Manchester United e Cazorla do Arsenal). Jogadores de destaque perderam suas vagas para certas peças que são "obrigatoriamente" fixas ou que não obtiveram tanta relevância ultimamente, como é o caso de Xavi - que leva muito tempo sem alcançar sequer a sombra da forma física que o glorificou -, Juan Mata ou Cazorla, que também não vêm justificando suas vagas na Copa pelo recente rendimento. Os que ficam de fora são jogadores como Iturraspe, um dos destaques do Athletic Bilbao que ficou em quarto lugar no campeonato espanhol e que terá vaga na Champions League no ano que vem; Isco, que apesar de não ser um nome indiscutível foi campeão europeu com o Real Madrid e se encontra em um nível muito acima de Juan Mata; e Jesús Navas, do City, mesmo não estando cem por cento fisicamente e sem ritmo de jogo. Mas se isso fosse motivo de corte, o que estaria Diego Costa fazendo na lista?

          Os quatro atacantes convocados são Pedro (Barcelona), David Villa e Diego Costa (Atlético de Madrid) e Fernando Torres (Chelsea). Pedro, apesar do baixíssimo nível do Barcelona nessa temporada, é o melhor dos quatro nomes. Villa vive a pior seca de gols da sua carreira, somando quinze jogos sem marcar. Diego Costa - machucado - está presente, apesar de todas as dúvidas sobre seu estado de forma e da minúscula porção de tempo para recuperação até o início da Copa. Fernando Torres está longe de ser o 9 ideal, conseguindo atingir apenas a marca de 11 gols nessa temporada. Até então, não são encontrados motivos plausíveis que justifiquem a presença da maioria desses atletas na lista definitiva da Espanha. E a não ser que Del Bosque seja realmente um profeta, um gênio incompreendido cujas análises são complexas demais para o entendimento popular - não há lógica, e não há critério. Negredo soma 23 gols na temporada, Llorente 18, Villa 15 e Torres 11. Acredite: os convocados são os dois últimos.

          A Espanha tem possivelmente o melhor elenco de jogadores; a seleção deles, nem tanto. Dentre aproximadamente 50 jogadores com condições de serem convocados, vê-se muitos dos nomes de sempre, de quatro anos atrás, e isso não significa que os ditos atletas mantém o mesmo nível desde então. Pelo contrário, a inflexibilidade e falta de critério de Vicente Del Bosque transformam a fantástica safra espanhola de jogadores em uma elite com jogadores escolhidos através do "amiguismo" ao invés da meritocracia. O treinador optou por chamar quatro jogadores do atual campeão espanhol, três jogadores do atual campeão europeu, e sete jogadores do pior Barcelona da última década. Além do mais, é compreensível que se diga que Del Bosque não sabe fazer times - os encontra feitos, e se aproveita, com pequenas modificações. Agora, os jogadores que passaram a temporada inteira dando o seu melhor por uma vaga passam a entender como funciona o esquema da Fúria. Pode não haver espaço para o esforço, para o merecimento e para a meritocracia - mas há lugar de sobra para injustiças e para a hipocrisia.

3 comentários:

  1. Tá por dentro...!!!??? Blz, Gio, parabens!!! Bjs, Furt

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  2. Se prova agora 13 dias depois que a análise não estava nada errada!!! os 5 a 1 estão aí de prova!!!

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  3. cezar angelo Bagatini13 de junho de 2014 às 18:11

    Gostei do teu conhecimento sobre a seleção espanhola.Ou a intenção foi ferrar o Diego Costa? Tu farias uma analise assim da seleção brasileira?
    Abraços.

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